A voz do homem grandalhão, sem rosto, soa ameaçadora. Ivan não tem outro remédio. Bebe sua própria urina.
Como encontrar palavras para descrever esse quadro? O que fazer quando o que se passa diante dos seus olhos é impossível de ser descrito pelo excesso de crueldade? A palavra exata para definir essa cena seria infâmia, vergonha. Talvez extrema humilhação, desonra. Ou miséria. As palavras e os adjetivos são precários para expressar o que aconteceu, naquele dia, no recôndito da alma humana. As palavras faltam, ou sobram, não sei. Melhor é fingir que nada foi real. Escondê-lo das palavras. Talvez tenhamos menos vergonha de dizer que somos humanos e aceitemos a idéia de que nos tornamos animais.
Tudo acontece em uma quarta-feira, 1º de setembro. O enorme relógio da parede da escola primária marca 9h40. é uma manhã típica de fim de verão. Há sol e alegria lá fora. Dentro da escola, alunos, professores e pais de família se preparam para dar início ao programa de comemoração denominado “Jornada do Saber”.
Subitamente, disparos e vozes de comando são ouvidos. Palavrões, ameaças, socos e pontapés são distribuídos a torto e a direito. Em fração de segundos, 32 homens e mulheres armados até os dentes, com os rostos encapuzados e com os olhos injetados, destilando ódio, dominam a escola. Poucos minutos depois, têm em seu poder 1300 reféns.
Os invasores colocam os reféns no pátio da escola e distribuem uma enorme quantidade de explosivos à sua volta, para se proteger em caso de serem atacados de surpresa. As milícias especiais de segurança do exército cercam a escola. Ficam em prontidão para entrar ao menor descuido dos terroristas.
A TENSÃO DO ATAQUE: Soldados das forças especiais tentam ao mesmo tempo se proteger, resgatar os feridos e atirar contra os terroristas islâmicos. O caos, a fumaça, o barulho tornam essas ações sangrentas e arriscadas.
A princípio, os invasores não fazem nenhuma exigência. Simplesmente se recusam a deixar os alunos comer e beber. Ameaçam matar 20 deles cada vez que um membro seja ferido pelas forças de segurança. Há amargura e rancor nas palavras do chefe do comando invasor. Anuncia aos jornalistas que não dará nem água nem comida às crianças. Alguns alunos contariam, depois, que os terroristas os obrigaram a beber sua própria urina.
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